domingo, 6 de janeiro de 2008

Camarote

Dualidade:
Sou rei, minha coroa é uma placa, mostra a que vim, mostra que eu sou, mostra o momento completo dentro do dia banal, sento em meu trono de vidro, preenchido de liquido, eu e só eu provo desse néctar, me resumo em pouco. Abdico de ser carne, agora sou líquido, sou sangue, sou álcool, sou o que querem, utilizo e abuso do meu trono ao meu bel prazer, sinto minhas veias completas de poder, e após o abuso me torno apenas bêbado, não um, mas apenas bêbado, e quando o trono esvazia, me torno, e sou:
Sou o menos consistente dos mortais, procuro a reunião das massas anônimas, procuro alguma expressão na massa mórbida, procuro o perfume único no meio de centenas de cheiros, sento no meu trono de vidro moldado, com minha coroa de papel e plástico onde se lê: esse é o reino de alguém, alguém que não sabe o que quer, esse alguém procura a reunião das massas e dentro dela o isolamento, esse alguém está desesperado, pois esse alguém não é ninguém, ele sobe ao seu patamar, veste sua coroa, tenta desesperadamente deixar de ser anônimo, mas nessa batalha irônica, faz a troca de ser alguém entre milhares para ser alguém entre cinco ou seis. Mas continua sendo apenas alguém. Alguém que quer deixar de ser o que todos em volta desejam.