Vamos lá, mesmo achando que os bons textos são os escritos quando se está triste e a boa pizza é a de aliche, convivo com aqueles que gostam de calabresa, então vamos tentar produzir algo.
Resolvi escrever sobre como as pessoas morrem, vou tentar abordar isso pela longevidade cronológica:
Primeiramente o esperma seco, ou o óvulo no absorvente, não é considerado morte pelos padrões atuais, mas não vejo muita diferença, nesse caso a vida e a oportunidade perdida existem, quem conseguirá me convencer que espermatozóide na camisinha com espermicida não daria um grande poeta ou o responsável pela cura do câncer? Mas tudo bem, este poderia criar também um novo corrupto, ou um novo sociopata, ai já vai para o moralismo de cada um.
Em segundo lugar, o aborto espontâneo ou não, com as mesmas possibilidades de ser algo que eu ou você.
Nesse ponto imagino a vida breve, a vida cancelada, o bebe que morre de maus tratos, de inanição, aquelas criancinhas africanas que morrem de fome, enquanto como minha pizza de aliche (e vocês a de calabresa), preciso confessar que isso já me incomodou mais, hoje acho que já que não fiquei louco, não me importo muito com eles.
Agora é a vez dos adolescentes que morrem de overdose, curtiram a vida até o ponto em que as coisas se reverteram, que a virtude virou vício, que a falta de moralismos, de dogmas, a cabeça aberta, viraram auto-destruição, esses estão mortos, mas pelo menos andaram durante um tempo na forma Trainspotiniana de ser, não mudaram o mundo, mas a boa pergunta é, quem conseguiu?
Temos os adultos que morreram de ataque cardíaco, graças a alguma compulção, talvez a de acumular riquezas, talvez por nunca conseguir alcançar o objetivo ilusório que os deixariam realmente felizes, tenho uma grande pena do segundo grupo, eles são os burros que a vida inteira perseguiram a cenoura pendurada, não perceberam que cada vez ela se afastava mais, mas hoje jazem em paz.
E aqueles adultos, que morrem de enfisema, ou de câncer, de insuficiência respiratória, ou até mesmo de ataque cardíaco, que ficaram a vida inteira sem a intensidade, viram os dias passarem atrás de uma tela de televisão, entre um jogo de futebol e outro, em um emprego medíocre, entre uma cerveja e outra, sem a variedade, esses na verdade viveram um dia só, um dia que se repetiu e se repetiu e se repetiu, num loop infinito, infinito até o fim do personagem, respeitando a ordem do meu texto deveria coloca-los após os abortos, mas deixa para lá, depois arrumo isso.
Temos ainda os velhacos que morreram após alguns sintomas de Alzheimer, não tem mais perspectiva, só existem porque tem alguma família que insiste em rega-los que nem uma samambaia na sala, vivem a memória, a memória dos outros, já que a deles foi perdida, são apenas um obelisco, algo que mostra como as vezes a morte esta realmente perto de todos, mas que as vezes é cruel de mais, esse ultimo grupo vivem graças a uma legislação sem piedade, vivem não, apenas existem, como carapaça, aquilo que chamamos de alma, essência, ou qualquer sinônimo já nas existe ali.
E o ultimo grupo, aqueles que já perderam a carapaça, ou não, mas que nunca deixarão de existir; no imaginário popular, na memória geral, aqueles que parafraseando o grande publicitário autor das campanhas da Jonnhy Walker: Fez ao menos, uma coisa notável.